O impacto do divórcio dos pais na vida das crianças e jovens



   O divórcio, desde que foi aprovado no Brasil, em 1977, tem se tornado cada vez mais frequente na vida das famílias brasileiras. Embora seja uma solução importante na vida do casal que já não está mais satisfeito com a união, não deixa de ser um processo complicado, principalmente quando existem filhos envolvidos (Grzybowski e Wagner, 2010). O desafio da separação envolve uma série de mudanças drásticas, sentimentos controversos e falta de habilidades para enfrentar as dificuldades que surgem no contexto de todos. Mudanças tais como questões financeiras, troca de casa, relações sociais, o afastamento de um dos pais, a chegada de membros novos na família (madrasta/padrasto, meio-irmãos e etc), troca de escola, julgamento social, entre outros, obrigam as pessoas a se depararem com suas limitações e, diante de tantas dificuldades, a auto-estima dessas pessoas pode ser abalada. Os pais, imbuídos de seus sentimentos arrebatadores, acabam por falhar em seus papéis com os filhos, deixando-os esquecidos por um período de tempo, ou utilizando-os como mensageiros ou espiões do ex-cônjuge o que, por sua vez, também elicia sentimentos negativos na criança, prejudicando sua relação com os pais (Almeida e Monteiro, 2012). 



Nos adultos, o divórcio geralmente envolve sentimentos de desilusão, frustração, culpa e insatisfação, nas crianças o divórcio interrompe um ciclo de vida e causa desajustamentos psicossociais. Segundo Almeida e Monteiro (2012), o processo de separação envolve três fases principais:

a) Separação: discussões frequentes, desorganização familiar, menor atenção a necessidades dos filhos;

b) Reconstrução: os pais procuram reconstruir suas vidas, mudando de emprego, de atividades, costumes, companheiros e etc.;

c) Estabilização: a família volta a se estabilizar, porém estão mais vulneráveis por questões econômicas, menos apoios externos, sentimentos negativos que ainda permanecem e monoparentalidade (cuidar do lar e dos filhos sozinho).



Os conflitos familiares acontecem mais frequentemente na primeira fase, onde desajustamento psicológico das crianças e jovens se estabelece, fornecendo ocasião para um prejuízo na relação entre pais e filhos. Algumas crianças reagem com isolamento, se dedicando a atividades anti-sociais como computador, vídeo-game ou televisão; outras apresentam baixo rendimento escolar, vínculo excessivo com os amigos de escola (onde há mais estabilidade), regressão das evoluções já conquistadas (p. ex. voltar a fazer xixi na cama), tristeza, comportamentos de risco (drogas, bebidas alcoólicas, brigas na escola), entre outros (Almeida e Monteiro, 2012).



Diante dos dados supracitados, torna-se evidente que o divórcio altera a dinâmica familiar de forma significativa, podendo levar a uma crise no desenvolvimento do indivíduo e da família como um todo. A crise se define por (a) se deparar com uma situação inesperada, (b) falta de habilidades para lidar com o problema, (c) busca de alternativas e (d) aprendizagem e amadurecimento, quando as alternativas são bem sucedidas, ou estresse e ansiedade quando as tentativas são fracassadas.

De acordo com Grzybowsky e Wagner (2010) seria importante que pais e filhos, após o divórcio, redefinissem fronteiras em sua relação e expusessem suas necessidade para formar novas regras dentro grupo. Porém, os pais divorciados, estão envolvidos com muitas emoções fortes, o que os leva a ficarem menos disponíveis e atentos às necessidades da criança. A função de pai e mãe não pode dar uma pausa para que os problemas pessoais sejam resolvidos, por isso, é importante buscar ajuda em como se adaptar melhor a esse processo. A busca de ajuda de profissionais capacitados para isso pode prevenir sequelas emocionais marcantes na vida de todos os familiares. Como, por exemplo, conversar com os professores e participar mais das reuniões da escola pode ser de grande ajuda. Além disso, o contato com um bom advogado também é importante para tratar do processo de divórcio da forma mais adequada, para que não haja insatisfações no futuro. Por fim, a psicoterapia familiar pode ser a peça chave para resolução de muitas mágoas e problemas que se arrastam no cotidiano das famílias. 


Na terapia, o psicólogo pode trabalhar nas crianças, habilidades tais como:

- Expressão adequada das emoções;

- Autoconhecimento;

- Resolução de problemas e autonomia;

- Desenvolvimento social;

- Questões escolares;

- Autoestima e identidade;

- Relações familiares;

- Comunicação assertiva

Para os pais, a terapia pode funcionar como:

- Orientação de como administrar bem as mudanças;

- Autoconhecimento;

- Expressão adequada das emoções;

- Fortalecimento da autoestima;

- Organização da nova rotina;

- Autocontrole emocional;

- Comunicação assertiva, entre outros.


  Ao identificar tamanha incidência de dificuldades entre as família em processo de separação, a blogueira que vos escreve (psicóloga Msc. Maíra Matos), desenvolveu uma forma diferente e bastante eficaz de treinar habilidades importantes em famílias nesse tipo de contexto. É o caso da psicoterapia de grupo para crianças, com a participação indireta dos pais. Este evento, que terá início no próximo mês, visa o apoio mútuo entre pais e filhos na mesma situação, desenvolvendo a comunicação e aumentando o vínculo entre os familiares que se encontram tão vulneráveis em momentos como este. Embora a psicoterapia individual seja bastante indicada e muito produtiva, a terapia de grupo pode ter algumas vantagens em situações como essas, tais como:

- Interação social das crianças, que muitas vezes se isolam;

- Enriquecimento das estratégias de enfrentamento;

- Promoção de autonomia;

- Sentimento de apoio e de pertencer a um grupo com dificuldades semelhantes;

- Autoconhecimento; 

- Contato maior com suas próprias potencialidades e menor com suas inabilidades;

- Autoestima fortalecida, entre outros;

   Assim, o que podemos concluir é que, sendo essa uma fase muito intensa na vida das pessoas, o compartilhamento de informações e de apoio pode tornar o processo um pouco mais fácil. Porém, independentemente da forma que a ajuda é buscada, todos podem conseguir se salvar no final.



Para interessados no grupo de terapia, mais informações em:




Referências Bibliográficas

Almeida, N. & Monteiro, S. (2012). Os Meus Pais já não Vivem Juntos: intervenção em grupo com crianças e jovens de pais divorciados. Lisboa: Coisas de Ler.

Grzybowsky, L. S. & Wagner, A. (2010). Casa do Pai, Casa da Maãe: A coparentalidade após o Divórcio.

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