A Extinção



O termo extinção refere-se ao processo de desaparecimento de uma resposta do repertório de um indivíduo. No paradigma respondente, a extinção ocorre quando um estímulo condicionado (CS) pára de eliciar uma determinada resposta (CR). Assim, segundo Moreira e Medeiros (2007, p. 38) a “resposta reflexa condicionada pode desaparecer se o estímulo condicionado for apresentado repetidas vezes sem a presença do estímulo incondicionado”, fazendo com que o efeito eliciador do CS deixe de existir.


Por exemplo, se Pavlov, após seu experimento de condicionamento respondente, resolvesse apresentar a sineta repetidas vezes sem a presença do alimento, aquela deixaria de funcionar como eliciadora de saliva, caracterizando um processo de extinção respondente.
Muitas pessoas, ao longo de suas vidas, desenvolvem medos que permanecem por anos e, da mesma forma que elas puderam aprender essas respostas, elas também podem aprender a não ter mais medo, através da extinção respondente. Para que isso aconteça, essas pessoas devem se expor repetidas vezes ao estímulo eliciador de medo, desassociado com o estímulo incondicionado que elicia tais respostas. Uma pessoa que desenvolveu medo de elevador, por exemplo, à medida que entra em contato com o objeto aversivo e nada de ruim acontece, o estímulo “elevador” passa a perder a função eliciadora de respostas de ansiedade. Porém, é justamente essa necessidade de se expor ao estímulo aversivo que faz com que pessoas sustentem um medo durante toda uma vida. A pessoa que teve o estímulo “elevador” emparelhado com estímulos aversivos incondicionados se esquivará sempre que possível desse estímulo, preferindo sempre subir de escada. Assim, a falta de contato retarda ou impede a extinção.


Para resolver esse problema, a terapia comportamental conta com duas intervenções não-verbais, que facilitam a extinção respondente para pessoas com fobias extremas, o contracondicionamento e a dessensibilização sistemática. A primeira consiste em condicionar uma resposta incompatível com aquela produzida pelo estímulo incondicionado. A segunda consiste em dividir o processo de extinção em pequenos passos, fazendo com que o cliente tenha contato com estímulos gradativamente parecidos com o estímulo aversivo, até que possa se sentir relaxado diante do estímulo principal (Rimm & Masters, 1983). Vale ressaltar que ambos os procedimentos são auxiliares ao tratamento das fobias, sendo necessários outros tipos de intervenção para que a pessoa aprenda a responder de forma adequada ao estímulo eliciador de ansiedade.


Outro tipo de extinção descrita por Skinner (1953) é a extinção operante que ocorre quando o reforço, após uma história prévia de reforçamento, já não é mais disponibilizado ao comportamento do sujeito, ou seja, há uma quebra na contingência. Diferentemente do que acontece no paradigma respondente, esse tipo de extinção caracteriza-se por atuar no estímulo consequente, fazendo com que uma resposta adquirida diminua gradualmente de freqüência. Por exemplo, quando os salgadinhos de um pacote terminam, Joana logo pára de colocar a mão no pacote para procurá-los. Ao apertar o botão que liga a tevê e perceber que ela está quebrada, Pedro em pouco tempo cessa as tentativas de assistir televisão e procura outro entretenimento. Mariana já não liga mais para Carlos, pois ele ignora todas as chamadas que ela faz em seu celular. Segundo Skinner (1953, p. 76) “em geral, quando nos empenhamos em comportamentos que ‘não compensam’ encontramo-nos menos inclinados a comportamentos semelhantes no futuro”.


Veja no esquema a seguir como podemos descrever a contingência da extinção:

Note que há uma quebra na contingência e não a retirada do estímulo reforçador como acontece na punição negativa. Para diferenciar os dois tipos de relação funcional, vamos tomar como exemplo, Mariana ligando para Carlos. Suponha que eles sejam um casal de namorados que acabaram de sair de uma briga e Carlos já não a atende mais, pois ficou furioso após ela ter saído para uma festa com as amigas. Ele está punindo o comportamento de Mariana sair sozinha com a retirada de um estímulo reforçador (punição negativa). No caso da extinção, Carlos já não atende Mariana, pois ela não é mais reforçadora para ele, ou seja, o comportamento de estar junto à ela perdeu sua função.
E o que controla o comportamento daquelas pessoas teimosas ou cabeças-duras que, mesmo em processo de extinção, permanecem se comportando insistentemente sem reforço? Para explicar isso, é preciso olhar para a história de aprendizagem às quais essas pessoas estiveram inseridas. Os estudos da Análise do Comportamento mostram que três fatores relevantes influenciam a resistência à extinção: (1) Número de reforços anteriores, ou seja, quanto mais o comportamento foi reforçado no passado, mais resistente ele será à extinção; (2) Custo da resposta, isto é, quanto mais difícil e cansativo é se comportar de determinada forma, mais rápido a pessoa é capaz de desistir e (3) Esquemas de reforçamento. Os esquemas de reforçamento intermitentes controlam o comportamento dos indivíduos de forma a desenvolver maior resistência à extinção quando comparados com o esquema de reforçamento contínuo, CRF (Moreira e Medeiros, 2007).  O valor do reforço para pessoas que se comportam de forma perseverante pode ser avaliado diante de tamanha resistência a extinção, ou seja, quanto mais resistentes, maior o valor do reforço final.


Veja o quadrinho abaixo (clique nele para ampliar):


Note que mesmo sem reforço para as verbalizações, Hagar continua a puxar conversa com o homem emburrado ao lado. Ele está em processo de extinção e só pára ao receber uma pancada (punição positiva). Provavelmente, Hagar teve uma história de reforçamento prévia ao puxar assunto com pessoas no bar, o que explica sua resistência à extinção.
Além disso, muito característico da extinção operante são efeitos como: (1) aumento da freqüência de resposta logo no início do processo; (2) aumento na variabilidade da topografia de respostas e (3) eliciação de respostas emocionais (Moreira e Medeiros, 2007). Para explicar esses efeitos, voltemos ao exemplo de Pedro ao ligar a tevê. Todos os dias, há anos, Pedro chega da escola e assiste seu desenho favorito antes de o almoço ser servido. Um belo dia, ele aperta o botão e nada acontece. A primeira coisa que ele faz é começar a apertar insistentemente (efeito 1). Sem reforço, ele checa a pilha, olha o aparelho de tevê, chama a mãe e assim por diante (efeito 2). Por fim ele joga o controle no chão, xinga, chuta a tevê e sai lamuriando até o quarto, procurando outra atividade para se entreter. Nesse exemplo, podemos ver os três efeitos clássicos da extinção acontecendo: aumento inicial na frequência de resposta, variabilidade e reações emocionais, seguido de uma queda abrupta no responder do indivíduo.


O vídeo a seguir apresenta o comportamento de um rato em processo de extinção:


Assim, pudemos entender um pouco mais sobre como certas respostas são extintas de nossos repertórios. Os terapeutas comportamentais se utilizam desses conhecimentos de diversas formas, a fim de retirar o que é inadequado na vida do cliente, sem efeitos colaterais, como acontece na punição!
Referências Bibliográficas
Moreira, M. B. & Medeiros, C. A. (2007), Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre. Ed: Artmend.
Rimm, D. C. & Masters, J. C. (1983). Terapia Comportamental: técnicas e resultados experimentais. 2ª edição. São Paulo: Editora Manole.
Skinner, B. F. (1953). Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes.

Comentários

  1. Ótimo texto, mas eu gostaria de ter lido algum exemplo de processo operante para extinguir comportamentos reforçados negativamente, como é o caso das respostas esquivas de uma pessoa que sofre de alguma fobia.
    Para extinguir um comportamento reforçado negativamente eu preciso reforçar positivamente um comportamento incompatível com a esquiva?

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  2. Ótimo texto, mas eu gostaria de ter lido algum exemplo de processo operante para extinguir comportamentos reforçados negativamente, como é o caso das respostas esquivas de uma pessoa que sofre de alguma fobia.
    Para extinguir um comportamento reforçado negativamente eu preciso reforçar positivamente um comportamento incompatível com a esquiva?

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    Respostas
    1. Querido Thiago,

      Ao tratar uma fobia precisamos compreender que este é um padrão de comportamento que evolvem respondentes e operantes.

      Os operantes envolvem a esquiva, as regras falsas que controlam seus comportamentos, enfrentamento de desafios, tomada de decisão, entre outros, que podemos utilizar das nossas técnicas verbais para alterar estas contingências.

      Quando se trata de extinção respondente, estamos falando de uma contingência de dois termos (S --> R), na qual o condicionamento acontece por emparelhamento de estímulos, está lembrado? A seguir, represento o esquema com o exemplo do cãozinho de Pavlov.

      NS + US --> UR
      sino carne salivar

      Após muitos emparelhamentos, apenas a presença do sino elicia o salivar.
      NS = CS --> CR
      sino salivar condicionado

      Porém, se no caso do experimento com o cão, Pavlov apresentasse por diversas vezes, somente o sino, sem a presença da carne, a resposta de salivar desapareceria, como foi o caso.

      Assim, para que a extinção aconteça, seria necessário fazer com que o cliente se exponha ao estímulo "fóbico" (CS) mas sem a presença do estímulo “ansiogênico” ao qual ele foi previamente emparelhado (US). Dessa forma, a resposta condicionada desaparecerá.
      Por exemplo, alguém que apresente fobia de elevador:

      NS + US  UR
      elevador barulho alto ansiedade (taquicardia, sudorese, tremores...)

      A medida que a pessoa entra no elevador e não escuta mais o barulho alto e vê que chegou com segurança ao seu destino, as respostas de ansiedade desaparecem.

      Para realizar este procedimento, o terapeuta precisa utilizar a técnica de Dessensibilização Sistemática, a qual faz com que o cliente se exponha virtualmente (em pensamento) a uma série de estímulos que vão aumentando progressivamente sua intensidade, os quais vão eliciando respostas de ansiedade com magnitude cada vez maior. Ao se expor a esta hierarquia de ansiedade, o terapeuta vai se utilizar, paralelamente, do relaxamento de Jacobson, associando a sensação de relaxamento com estímulos que antes causavam ansiedade. Com isso, o terapeuta desenvolve a habilidade de autocontrole emocional ao paciente.

      Em seguida, quando o cliente tiver amplo controle sobre suas respostas de ansiedade, podemos partir para a exposição ao estímulo in vivo.
      A técnica da Dessensibilização Sistemática está presente em diversos manuais de Terapia Comportamental. Creio que você consegue achar muita coisa na internet. Porém, aqui vai a sugestão de um livro muito bom:

      Rimm, D. C. & Masters, J. C. (1983). Terapia Comportamental: técnicas e resultados experimentais. 2ª edição. São Paulo: Editora Manole.

      Se tiver mais dúvidas sobre esta técnica, posso explicar com mais detalhes no e-mail: mairamatoscosta@gmail.com.

      Até logo e obrigada pela preferência.
      Atenciosamente, Maíra Matos Costa.

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  3. Gostei Muito inteligente essa explicação

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  4. Muito obrigada!!! me ajudou muito....

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